Por Paulo Ramada, Presidente executivo AP Hotels & Resorts
O turismo em Portugal é um caso de sucesso. Gera riqueza, cria emprego e projeta o país no mundo. Mas o sucesso tem um custo – e a ausência de planeamento estratégico ameaça travar o seu potencial. O problema não está apenas na falta de capacidade aeroportuária; está, sobretudo, na incapacidade de pensar o turismo como parte de um ecossistema integrado, que envolve mobilidade, sustentabilidade, inovação e qualidade de vida das populações locais.
Durante demasiado tempo, o objetivo foi apenas “trazer mais turistas”. O número de dormidas e as receitas serviram como métrica de prosperidade. Mas em 2025, esse modelo está esgotado, o aeroporto está esgotado! Mas, o viajante contemporâneo já não procura apenas o destino “bonito e barato” – quer autenticidade, sustentabilidade e sentido. É este novo paradigma que dá força ao conceito de turismo regenerativo, uma evolução do turismo sustentável.
Enquanto o turismo sustentável procura “minimizar o impacto”, o regenerativo pretende gerar impacto positivo: deixar o território melhor do que o encontrou. Trata-se de envolver as comunidades locais, restaurar ecossistemas e valorizar identidades culturais. Em várias regiões de Portugal, começam a surgir sinais dessa transformação – desde projetos turísticos que investem na recuperação ambiental, até programas de experiência comunitária que devolvem parte das receitas à economia local.
Mas regenerar não é suficiente sem inovar. Vivemos numa era tecnológica em que a inteligência artificial, a automação e os dados estão a mudar radicalmente a forma como viajamos. A tecnologia é hoje o maior catalisador de transformação do turismo: ajuda a personalizar experiências, a gerir fluxos e a otimizar recursos. Contudo, também traz um risco – o de desumanizar a viagem, de substituir a empatia pelo algoritmo.
Portugal deve encarar a tecnologia como aliada da hospitalidade, não como substituta. A verdadeira vantagem competitiva estará em combinar inovação com autenticidade, eficiência com emoção, digitalização com calor humano. Essa é a essência do novo turismo português: mais inteligente, mais consciente e mais humano.
E aqui voltamos ao aeroporto. O atraso na decisão – e a falta de execução – é mais do que uma falha logística. É o retrato de um país que continua a tratar o turismo como fenómeno conjuntural, em vez de o assumir como ativo estratégico nacional. Um destino que quer atrair mais, mas hesita em investir melhor. Um país que fala de sustentabilidade e inovação, mas continua refém da burocracia e da ausência de visão integrada.
O futuro do turismo não se constrói com slogans, mas com políticas coerentes e investimentos estruturais. Um aeroporto é mais do que uma infraestrutura física; é uma metáfora da capacidade de um país planear o futuro. Enquanto adiamos decisões, perdemos competitividade e arriscamos transformar o sucesso em saturação.
O turismo regenerativo e tecnológico exige planeamento, coragem política e liderança empresarial. Exige uma mentalidade que privilegie o valor sobre o volume, a qualidade sobre a quantidade, a visão sobre o improviso.
Portugal tem tudo para liderar esta transição: uma marca sólida, talento humano e um ecossistema turístico maduro. Falta apenas sincronizar ambição e execução. O novo aeroporto, que continua adiado, é apenas o sintoma. O verdadeiro desafio está em aterrar no futuro – e não continuar eternamente em espera na pista.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 236 de Novembro de 2025




